15/03/2010 A homeopatia: fantasia ou ciência? Josep Garriga - El Pais
A cebola (Allium cepa) é um dos ingredientes básicos para um bom refogado. Mas também pode curar um resfriado comum. A tinta da sépia (Sepia officinalis) é imprescindível para fazer um delicioso arroz negro, mas também é recomendada para transtornos hormonais, da menopausa e menstruação. O enxofre (sulphur) não serve só para matar os fungos das videiras, mas também para curar doenças da pele. E por aí vai. Nada menos que três mil substâncias de origem vegetal, animal e mineral são utilizadas pela homeopatia para curar patologias, sejam elas leves, graves ou crônicas.
Mas há cientistas e médicos para os quais a homeopatia – como terapia ou terapêutica natural – parece uma farsa. O Parlamento britânico, por exemplo, determinou em fevereiro que seu único efeito curativo era como placebo. Mas, fora isso, ninguém demonstrou como essas bolinhas açucaradas interagem no organismo e chegam a influenciar o curso de uma doença. Se é que influenciam ou interagem, porque a homeopatia desperta paixões e fobias, e suscita opiniões extremas. Ou é defendida radicalmente (no Reino Unido e na França ela faz parte do sistema de saúde pública) ou é caluniada. Não há meio termo. No máximo, pode-se encontrar algum médico que seja cético de forma não usual.
A medicina homeopática se baseia no princípio da semelhança, ou seja, uma mesma substância responsável por determinados sintomas também pode aliviá-los ou neutralizá-los, sempre e quando for administrada de forma correta (o semelhante cura o semelhante). Por exemplo, a cebola provoca lágrimas e irritação na garganta, mas abrevia um resfriado comum. A cafeína produz insônia ou taquicardias, mas também pode induzir a um ritmo cardíaco normal. Esta reação acontece porque a substância está presente nos medicamentos em doses infinitesimais, que são obtidas mediante processos de potencialização ou dinamização (várias sacudidas da diluição). Mas a origem da polêmica sobre a sua eficácia está no fato de a diluição ser tão pronunciada que às vezes não resta uma só molécula do princípio ativo original.
Entretanto, Luc Montagnier, que ganhou o prêmio Nobel de Medicina em 2998 por ter descoberto o vírus da imunodeficiência humana (HIV), não compartilha dessa opinião: “Observou-se que certas diluições em água nas quais não resta nenhuma matéria ainda assim registram vibrações. Esta diluição pode reconstruir a informação genética da matéria. É uma informação instrutiva da qual a homeopatia não pode esquecer, embora muitos críticos digam que não há nada. Mas há alguma coisa. Nós demonstramos a água tem estruturas que são induzidas por vibrações eletromagnéticas.”
Por causa dessa descoberta, os médicos homeopatas sustentam que a reação que acontece no organismo não é química, como acontece com os medicamentos alopáticos, mas sim de caráter físico, mas continuam sem esclarecer como ela atua. “Os estudos científicos que foram apresentados e que demonstram que a homeopatia tem um efeito superior ao do placebo evidenciam que é isso que acontece, que nosso organismo reage ao medicamento. Nós demonstramos que o princípio da semelhança existe e funciona”, rebate Assumpta Mestre, que dirige a seção de homeopatia do Colégio de Médicos da Catalunha.
Mas Montagnier acrescenta: “Física ou química? É mais complicado. Mas é verdade que é possível explicar o efeito dos medicamentos depois da diluição pelo fato de que a estrutura da água pode continuar representando a molécula. A água pode conservar a forma e a informação do princípio ativo da molécula”. Essa teoria explicaria a influência dessa substância primitiva sobre o organismo, ainda que não reste nenhuma só molécula da original.
“Os mecanismos de ação dos medicamentos homeopáticos são muito variáveis. O que conhecemos sobre a atuação da aspirina é muito diferente do que sabíamos há 30 anos. O importante é que a substância cure, como ela consegue isso é secundário”, acrescenta Antonio Marqués, também médico homeopata com consultório nas Ilhas Canárias.
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Mas, convincente ou não, a homeopatia conta cada dia com maior número de adeptos, não só entre os pacientes, mas também entre os médicos. O número de pediatras que optam por esses tratamentos disparou nos últimos anos, sobretudo por conta da segurança dos medicamentos e da facilidade em administrá-los. E sim, tratam-se de medicamentos, e não de balinhas, segundo todas as normas europeias e a Agência Espanhola de Medicamentos. Como tal, são vendidos em farmácias. “Efetivamente, estamos falando de medicamentos com eficácia demonstrada por meio de estudos científicos e testes, da mesma forma que acontece com os medicamentos convencionais, os alopáticos”, comentam representantes da Agência Espanhola do Medicamento. Se não, não estariam no mercado.
Tradução: Eloise De Vylder
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